Creators must create
Uma reflexão sobre a conexão entre consumir, criticar e criar design com inovação
Tenho refletido bastante sobre a minha jornada no design, e também sobre a nossa comunidade no geral.
Trabalho com design há 12 anos, me formei em design gráfico há 10 e lidero times de design há 3 anos, e juntando tudo isso, a minha conquista, sem dúvida nenhuma, foi nunca ter parado de criar. Sim, nunca parar de criar. Parece estranho dizer que minha conquista como designer foi não ter parado de criar? Pode ser que sim, mas devo dizer que tenho sentido nos últimos anos esse movimento de mercado onde os designers não necessariamente precisam ser criadores ou mesmo criativos.
Vejo muitos projetos de design focados em métricas (apenas métricas) vejo designer focados em execução de estratégias (apenas execução de ideias previamente discutidas por pessoas que não necessariamente são ou incluem o designer criador) vejo projetos de design focados em reproduzir grandes cases (onde só é aceito o que já foi criado, disseminado e com bons resultados), vejo muito design que não corre riscos, vejo muito designer que não cria.
Criatividade não é um talento, é uma forma de operar.
John Cleese.
Li essa frase acima no livro Mostre seu trabalho! de Austin Kleon que fala sobre como a criatividade é um modo de operar. Fez muito sentido na minha vivência pois a conexão entre executar para inovar é muito clara no meu processo e penso sobre o quanto deixar de criar nos faz apenas observadores e reprodutores de belas frases, excelentes links de produtos, cases e referências, mas pouco criadores de fato.
Sinto que deixar de criar nos torna designers reprodutores ao invés de designers inovadores e essa (falta de) vivência nos deixa cada vez mais rasos em debates, decisões e direcionamento enquanto designers e líderes de design. Sinto que nos tornamos (pouco) criadores que censuram iniciativas criativas e inovadoras por estarmos fora do consumo e execução de criatividade e isso tem ficado muito claro pra mim — talvez por ter uma visão mais ampla depois de ter vivido design em publicidade, marketing, branding e, nos últimos anos, produto — atualmente.
O quanto estamos realmente inspirando pessoas com o nosso trabalho se não criarmos de fato? Estou falando de colocar a mão na massa mesmo, pegar um problema e desenhar a solução, passar por todos os buracos no caminho e sair do túnel da criação com algo substancial. Estamos inspirando designers com o que fazemos? Faz sentido líderes de design estarem afastados de todo o quebra-cabeça da criação? O quanto deixar de pesquisar, estudar, executar e colocar no papel a síntese de toda a nossa observação social nos afasta de termos profundidade na tomada de decisões e de mesmo executar projetos que nos levem às nossas metas de forma inovadora? Ainda estamos observando a sociedade e seus movimentos?
Ser leitora de ciências sociais também tem me despertado algumas reflexões sobre isso. Adorno fala sobre a distância entre o crítico e o conhecimento para criar no texto Crítica Cultural e Sociedade (1949):
“Ocupando habilmente as lacunas e adquirindo, com a expansão da imprensa, uma maior influência, os críticos acabaram alcançando exatamente aquela autoridade que a sua profissão pretensamente já pressupunha. Sua arrogância provém do fato de que, nas formas da sociedade concorrencial, onde todo ser é meramente um ser para o outro, até mesmo o próprio crítico passa a ser medido apenas segundo o seu êxito no mercado, ou seja, na medida que ele exerce a crítica. O conhecimento efetivo dos temas não era primordial, mas sempre um produto secundário, e quanto mais falta ao crítico esse conhecimento, tanto mais essa carência passa a ser cuidadosamente substituída pelo eruditismo e pelo conformismo.”
Vejo que isso hoje se aplica demais ao design hoje e sobre como estamos trabalhando: falamos muito sobre projetos e designers, mas não nos aprofundamos nos aspectos técnicos e sociais que fazem os objetos de nossas conversas serem bons ou ruins. Isso se daria pela falta de contato com a criação? Provavelmente sim. Na minha visão e experiência, sim.
Criar nos torna designers, líderes e inovadores melhores. Criar é o nosso modo de resolver problemas, encantar pessoas e comunicar. Criar é o nosso modo de operar, mas estamos operando nesse modo?